domingo, 18 de maio de 2014

NAÇÃO RIVOTRIL

A busca por refúgio se dá de diversas formas, como ir a praia, pensar em algo bom ou mesmo o armário de remédios de casa.

Nas farmácias não há um produto intitulado “paz em drágeas”, mas algumas pessoas pensam que é isso que Rivotril, um ansiolítico (calmante), significa. Rivotril é prescrito por psiquiatras a pacientes em crise de ansiedade - nos casos em que o sofrimento tenha causa bem definida. Mas tem sido usado pelos brasileiros como elixir contra as pressões banais do dia a dia: insônia, prazos, conflitos em relacionamentos. Um arqui-inimigo dos dilemas do mundo moderno. O problema é tamanho que o Brasil é o maior consumidor de clonazepan, princípio ativo do medicamento, do mundo, ficando atrás apenas dos anticoncepcionais. 

Fonte: http://www.pesquisemedicamentos.com.br/uploads/_thumb/medicamentos/rivotril%200,5mg%2030cpr.jpg
Este medicamento é tarja preta, o que indica que só pode ser vendido por meio de prescrição. Entretanto, a população tem acesso por meio de prescrições de outras pessoas. Em alguns casos, até há a prescrição, mas de um médico não especialista, segundo Alexandre Saadeh, professor do Instituto de Psiquiatria da USP. "Ginecologistas costumam prescrever Rivotril para pacientes que sofrem fortes crises de TPM", diz. Até porque poucos brasileiros vão ao psiquiatra, de acordo com a Roche, laboratório responsável pelo Rivotril. "Grande parte dos brasileiros tem dificuldade de acesso a psiquiatras, e isso está relacionado à prescrição do Rivotril por médicos não especialistas", afirma Maurício Lima, diretor-médico da Roche.

Dessa forma a popularidade do Rivotril tem crescido a tal ponto que há casos de pessoas que o utilizam a mais de 20 anos para dormir e só o conseguem se tomarem a medicação.  O medicamento tem sido usado até para cortar o efeito de outras drogas, segundo o psiquiatra André Gustavo Silva Costa, especialista em tratamento de dependentes químicos. "Jovens têm tomado o Rivotril para cortar o efeito de drogas como cocaína. Eles querem dormir bem para conseguir trabalhar no dia seguinte", diz. 

Adaptado de: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihbFjcZ2MF9t3jyWFrBfRHihueip3hzII1lg4U552tmdFjFhF8pSxYQZzXqRzJpeX8G8i9OKwqrEL8T20A6uqd3TgFaflCM0DM_5rgVqd9qfGVmvIYvlO8hTYySpgaKqD2tlZDmBADX2C8/s1600/antidepressivos-pilula-da-felicidade-1276198294060_300x230.jpg

Mas o que há de tão mágico no Rivotril? Quando somos pressionados, determinadas áreas do cérebro trabalham mais e é nelas que este medicamento atua, estimulando os mecanismos que equilibram este estado de tensão, ou em palavras mais simplificadas: a pessoa fica tranquila. Essa tranquilidade não é recomendada a todos e seu consumo por profissionais que devem manter-se em estado de alerta, como operadores de máquinas e pilotos de avião, deve ser evitado. 

Os benzodiazepínicos como Lexotan, Diazepam e Lorax, classe de medicamentos a que pertence o Rivotril, tem o mesmo efeito. Surgiram na década de 1950 com o intuito de substituir os barbitúricos, uma vez que o risco de intoxicação com os últimos é mais provável, como o caso da cantora e atriz Marylin Monroe que sugerem ter se envenenado acidentalmente com barbitúricos.

Outra vantagem do Rivotril é seu longo tempo de ação (meia-vida) de 18 horas entre o tempo de relaxamento, pico do efeito e saída do corpo.  Na prática, esse meio-termo significa que o efeito do Rivotril não termina nem cedo demais - o que poderia fazer o paciente acordar de uma noite de sono já ansioso - nem tarde demais - o que não prolonga a sedação por um período maior que o desejado.

Fomte: http://4.bp.blogspot.com/-FBWMaXHTNWw/UWDY37y6R-I/AAAAAAAACJM/mmp2oQSIcMw/s1600/keep-calm-and-tragam-meu-rivotril.png


No Brasil, o Rivotril tem ainda outra vantagem importante. Repare: somos os maiores consumidores mundiais do remédio, mas estamos apenas na 51ª colocação na lista global de consumo de benzodiazepínicos. Ou seja: o mundo consome muitos benzo, nós consumimos muito Rivotril. Por quê? Por causa do preço. Uma caixa de Rivotril com 30 comprimidos (considerando a versão de 0,5 miligrama) custa em torno de R$ 8. O principal concorrente, o Frontal, da Pfizer, custa cerca de R$ 29. 

Esses pontos fazem com que a população esqueça a tarja preta, que não está lá por acaso, e busquem o medicamento a todo custo. O que nem todos sabem é que ele gera dependências química e psicológica. Na química, o processo é semelhante ao que ocorre com o álcool e outras drogas. O uso prolongado torna o cérebro dependente daquela substância para correto funcionamento. Enquanto na psicológica o paciente para de usar a medicação, mas mantém uma caixa dentro do bolso ou na gaveta só por precaução.  "Cerca de 80% das pessoas que usam benzodiazepínicos ficam dependentes em 2 ou 3 meses de uso", diz Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, de São Paulo. "E a maioria tem síndrome de abstinência se o remédio for tirado de uma hora para outra."

Nos casos mais graves de abstinência, o paciente pode ser internado em clínicas e hospitais. Para tratar a dependência é necessário parar de tomar o medicamento, o que é difícil, uma vez que este dá a sensação que todos os problemas podem ser resolvidos ao tomar um comprimido. É necessário a busca por alternativas para se livrar do estresse, como ir a praia, namorar, ler um bom livro, ver um filme ou até mesmo comer.

Para saber mais, consulte o farmacêutico ou o médico.

Adaptado de: http://super.abril.com.br/saude/nacao-rivotril-587755.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super