NAÇÃO
RIVOTRIL
A
busca por refúgio se dá de diversas formas, como ir a praia, pensar em algo bom
ou mesmo o armário de remédios de casa.
Nas
farmácias não há um produto intitulado “paz em drágeas”, mas algumas pessoas
pensam que é isso que Rivotril, um ansiolítico (calmante), significa. Rivotril é prescrito por psiquiatras a
pacientes em crise de ansiedade - nos casos em que o sofrimento tenha causa bem
definida. Mas tem sido usado pelos brasileiros como elixir contra as pressões
banais do dia a dia: insônia, prazos, conflitos em relacionamentos. Um
arqui-inimigo dos dilemas do mundo moderno. O problema é tamanho que o Brasil é
o maior consumidor de clonazepan, princípio ativo do medicamento, do mundo,
ficando atrás apenas dos anticoncepcionais.
![]() |
Fonte: http://www.pesquisemedicamentos.com.br/uploads/_thumb/medicamentos/rivotril%200,5mg%2030cpr.jpg |
Este medicamento é tarja preta, o que indica que
só pode ser vendido por meio de prescrição. Entretanto, a população tem acesso
por meio de prescrições de outras pessoas. Em alguns casos, até há a prescrição, mas de um
médico não especialista, segundo Alexandre Saadeh, professor do Instituto de
Psiquiatria da USP. "Ginecologistas costumam prescrever Rivotril para
pacientes que sofrem fortes crises de TPM", diz. Até porque poucos
brasileiros vão ao psiquiatra, de acordo com a Roche, laboratório responsável
pelo Rivotril. "Grande parte dos brasileiros tem dificuldade de acesso a
psiquiatras, e isso está relacionado à prescrição do Rivotril por médicos não
especialistas", afirma Maurício Lima, diretor-médico da Roche.
Dessa forma a popularidade do Rivotril tem
crescido a tal ponto que há casos de pessoas que o utilizam a mais de 20 anos
para dormir e só o conseguem se tomarem a medicação. O medicamento tem sido
usado até para cortar o efeito de outras drogas, segundo o psiquiatra André
Gustavo Silva Costa, especialista em tratamento de dependentes químicos.
"Jovens têm tomado o Rivotril para cortar o efeito de drogas como cocaína.
Eles querem dormir bem para conseguir trabalhar no dia seguinte", diz.
![]() |
Adaptado de: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihbFjcZ2MF9t3jyWFrBfRHihueip3hzII1lg4U552tmdFjFhF8pSxYQZzXqRzJpeX8G8i9OKwqrEL8T20A6uqd3TgFaflCM0DM_5rgVqd9qfGVmvIYvlO8hTYySpgaKqD2tlZDmBADX2C8/s1600/antidepressivos-pilula-da-felicidade-1276198294060_300x230.jpg |
Mas o que há de tão mágico no Rivotril? Quando
somos pressionados, determinadas áreas do cérebro trabalham mais e é nelas que
este medicamento atua, estimulando os mecanismos que equilibram este estado de
tensão, ou em palavras mais simplificadas: a pessoa fica tranquila. Essa
tranquilidade não é recomendada a todos e seu consumo por profissionais que
devem manter-se em estado de alerta, como operadores de máquinas e pilotos de
avião, deve ser evitado.
Os benzodiazepínicos como Lexotan, Diazepam e
Lorax, classe de medicamentos a que pertence o Rivotril, tem o mesmo efeito.
Surgiram na década de 1950 com o intuito de substituir os barbitúricos, uma vez
que o risco de intoxicação com os últimos é mais provável, como o caso da
cantora e atriz Marylin Monroe que sugerem ter se envenenado acidentalmente com
barbitúricos.
Outra vantagem do Rivotril é seu longo tempo de
ação (meia-vida) de 18 horas entre o tempo de relaxamento, pico do efeito e
saída do corpo. Na
prática, esse meio-termo significa que o efeito do Rivotril não termina nem
cedo demais - o que poderia fazer o paciente acordar de uma noite de sono já
ansioso - nem tarde demais - o que não prolonga a sedação por um período maior
que o desejado.
![]() |
Fomte: http://4.bp.blogspot.com/-FBWMaXHTNWw/UWDY37y6R-I/AAAAAAAACJM/mmp2oQSIcMw/s1600/keep-calm-and-tragam-meu-rivotril.png |
No Brasil, o Rivotril
tem ainda outra vantagem importante. Repare: somos os maiores consumidores
mundiais do remédio, mas estamos apenas na 51ª colocação na lista global de
consumo de benzodiazepínicos. Ou seja: o mundo consome muitos benzo, nós
consumimos muito Rivotril. Por quê? Por causa do preço. Uma caixa de Rivotril
com 30 comprimidos (considerando a versão de 0,5 miligrama) custa em torno de
R$ 8. O principal concorrente, o Frontal, da Pfizer, custa cerca de R$ 29.
Esses pontos fazem com que a população esqueça a
tarja preta, que não está lá por acaso, e busquem o medicamento a todo custo. O
que nem todos sabem é que ele gera dependências química e psicológica. Na
química, o processo é semelhante ao que ocorre com o álcool e outras drogas. O
uso prolongado torna o cérebro dependente daquela substância para correto
funcionamento. Enquanto na psicológica o paciente para de usar a medicação, mas
mantém uma caixa dentro do bolso ou na gaveta só por precaução.
"Cerca de 80% das pessoas que usam
benzodiazepínicos ficam dependentes em 2 ou 3 meses de uso", diz Anthony
Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas,
de São Paulo. "E a maioria tem síndrome de abstinência se o remédio for
tirado de uma hora para outra."
Para saber mais, consulte o farmacêutico ou o
médico.
Adaptado de: http://super.abril.com.br/saude/nacao-rivotril-587755.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super